Pesquisa da Fepagro monitora ruídos de ingestão dos bovinos



Um estudo que está sendo conduzido na Fepagro Forrageiras, em São Gabriel, está monitorando os sons de ingestão de bovinos para poder avaliar as atividades de pastejo dos animais. O objetivo é analisar, com base em informações do comportamento dos bovinos em pastejo, como o manejo das pastagens naturais do Bioma Pampa altera o ganho de peso dos animais e encontrar formas de minimizar possíveis perdas ao longo do ano.

O monitoramento faz parte de um trabalho conduzido pelo pesquisador da Fepagro Júlio Kuhn da Trindade, que utiliza a bioacústica para acompanhar o comportamento ingestivo dos bovinos em sistema de pastejo. A bioacústica tem sido proposta por ser um método não invasivo, com baixo custo e que possibilita identificar as atividades dos ruminantes de forma contínua.? ”A determinação do tempo que os animais dedicam às diferentes atividades em pastejo contribui para melhor entender as relações de causa e efeito quando, por exemplo, aplicamos determinados manejos nas pastagens”, explica.

Para realizar esse monitoramento, os pesquisadores da Fepagro Forrageiras colocaram gravadores acústicos com GPS em animais da raça braford. Os equipamentos são acondicionados em uma caixa ultra resistente, impermeável à umidade, e conectados a um microfone de lapela, que é ajustado na testa do animal. Uma bateria, com autonomia superior a 24 horas, mantém tudo funcionando. O equipamento grava os sons de ingestão dos animais e o GPS registra a localização exata deles. “Dessa forma, podemos monitorar onde são os locais de pastejo e ruminação dos animais, onde realizam mais bocados e o porquê. Essas informações contribuem para melhorar o manejo das pastagens, não na ótica daquilo que julgamos ser melhor para os animais, mas na ótica do que os animais expressam e nos 'dizem' que é melhor para eles”, detalha Júlio.

Segundo o pesquisador, cada movimento mandibular que os animais realizam – podendo ser bocado ou mastigação – gera um determinado conjunto de características acústicas, tais como frequência, intensidade e duração, que apresentam relações significativas com o quanto e o que consomem. “Nesse sentido, esse é um método revolucionário, que tem um potencial enorme de, no futuro, possibilitar desvendarmos muitas caixas-pretas relacionadas à nutrição e comportamento de animais em pastejo”, avalia.

Os sons coletados são processados manualmente em um software acústico, onde são rotuladas as atividades principais dos animais: pastejo, ruminação, ócio, visita ao sal e água. De acordo com Júlio, o passo seguinte será investigar e buscar formas de analisar essa informação de maneira automatizada. “Já temos algumas iniciativas nesse sentido e acreditamos que, em médio e longo prazo, com a colaboração do Grupo de Pesquisa em Ecologia do Pastejo da UFRGS, consigamos produzir um sistema automatizado”, conta.



Outros dados, como o tempo que os animais gastam pastejando, quanto andam na pastagem e o consumo de forragem, ajudam a descobrir o ganho energético e a modelar o gasto energético dos animais. Essas informações não apenas apontam qual tratamento na pastagem faz os animais ganharem mais peso, mas também ajudam a entender o porquê. “Digamos que dois animais consomem a mesma quantidade de forragem, mas um ganha mais peso que outro. Ao analisar o tempo de pastejo de cada um, você descobre que o animal que ganhou menos peso caminhou mais e ficou mais tempo pastejando para compensar o pouco alimento que ele consegue obter em cada bocado, por conta de a pastagem estar rapada. Para isso precisamos da bioacústica”, exemplifica.

O estudo de bioacústica faz parte de dois projetos conduzidos em área experimental de 34 hectares de pastagem natural do Bioma Pampa, com apoio de recursos aprovados no CNPq. Os projetos têm como meta realizar avaliações de comportamento ingestivo dos animais e da vegetação, medidas de consumo de forragem pelos animais com marcadores fecais, avaliações do desenvolvimento reprodutivo das novilhas, balanços mensais de produção de forragem e animal e avaliações de impactos no ambiente e no solo.



Texto: Elaine Pinto
Foto e diagrama: Júlio Kuhn da Trindade

Divisão de Comunicação Social
Pesquisa da Fepagro monitora ruídos de ingestão dos bovinos Pesquisa da Fepagro monitora ruídos de ingestão dos bovinos Reviewed by Unknown on dezembro 11, 2015 Rating: 5

Nenhum comentário: