“Don Hermes” e o cinema para o povo.


A fronteira de Santana e Rivera vivia dias de uma intensa e até ingênua boemia nos idos de 1950. Naqueles anos, o imaginário popular ainda não havia sido transformado pelas imagens hegemônicas da televisão. Nos corações e mentes dos amantes da sétima arte quem imperava eram os galãs das grandes produções americanas, mexicanas ou europeias. As salas escuras ditavam as regras dos devaneios e dos sonhos românticos.

Para uma legião de crianças e adolescentes dos bairros mais pobres, no entanto, essa cidade ainda permanecia distante, privilégio dos mais endinheirados. Tudo começou a mudar quando um modesto bancário, filho de família humilde, resolveu erguer seu próprio cinema, no Beco do Margato, em plena Vila Julio de Castilhos.

O documentário “Don Hermes”, de Marlon Aseff, recupera a trajetória de Hermes Walter, o cinéfilo idealista que queria ajudar os mais carentes, cobrando valores simbólicos para exibir toda a semana, filmes que faziam a alegria da gurizada, como os seriados de Buck Jones, Hopalong Cassidy , Billy Hicrok, Fantasma, Dom Chicote, o Cavaleiro Negro, Zorro, entre muitos outros.
Com depoimentos de amigos, vizinhos e assíduos frequentadores do “cineminha Hermes”, o filme traz ainda a lembrança de personagens da cultura fronteiriça daquelas décadas, como o exibidor Ramão Planella, apaixonado por filmadoras, proprietário dos cinemas Planella, em Santana, e o Astral e Grand Rex, em Rivera.

Com um texto guia primoroso, baseado na obra do cronista Luciano Machado e relatado pelo radialista Antônio Carlos Valente, o filme é, ao mesmo tempo, uma biografia de Hermes Walter e de uma época de ouro, quando os cinemas e os sonhos em celuloide imperavam na fronteira.

“Don Hermes” e o cinema para o povo. “Don Hermes” e o cinema para o povo. Reviewed by Unknown on março 13, 2014 Rating: 5

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