06 de OUTUBRO - 15 ANOS DA MORTE DE NOEL GUARANY.

NOEL GUARANY: O MAGO QUE (RE)CRIOU A MÚSICA MISSIONEIRA.
Por JOÃO SAMPAIO.


Nas Missões a música sempre foi muito importante.

Desde a época esplendorosa dos jesuítas que nós,os missioneiros,cantamos para tudo:para trabalhar,para festejar,para louvar o nosso Tupã guarani,para guerrear e também para enterrar os nossos mortos.
O lendário padre Antonio Sepp,formou milhares de músicos,virtuoses que tocavam com a notação musical mais avançada do seu tempo.

Após a expulsão dos jesuítas,do genocídio covarde da Guerra Guaranítica e do traslado dos índios para o outro lado do rio,aconteceu(com a chegada dos imigrantes gringos e outros fatores socioeconômicos) uma certa "desaceleração" nessa musicalidade.


Mais contemporaneamente,sobraram músicos espontâneos como o Cabo Laranjeira(que acompanhou a saga da Coluna Prestes!),o Reduzino Malaquias,o Chico Guedes e muitos outros criollos,que,a duras penas,mantiveram ,galhardamente intocado esse tesouro musical,lutando para não se contaminarem e nem se poluírem com o canto de outras querências.


Nesse tempo abundavam nas Missões,imitadores caricaturais dos Bertussi(que,com todo o respeito que merecem,nada tinham e nada têm a ver conosco!),bem como duplas sertanejas com temáticas postiças e artificiais,de péssimo gosto e que também não contextualizavam o canto da nossa terra e da nossa gente.


E foi aí que surgiu a genialidade pioneira,única e iluminada de Noel Guarany.

Depois de percorrer,com sua guitarra crioula,vários paises da América mestiça e índia(la nuestra América!),Noel Guarany miscigenou antigas sonoridades e timbres do cancioneiro guaranítico missioneiro com a aculturação de rítmos platinos(sobretudo argentinos,uruguayos e paraguayos!) e fermentou esse bolo musical que hoje é conhecido como MÚSICA MISSIONEIRA.

Já foi dito que Noel Guarany forjou uma maneira missioneira de cantar o gauchismo.

Eu vou muito mais além, e como diria Brecht,acho que Noel Guarany foi um homem imprescindível para o tempo que lhe tocou viver.

Foi,reitero,um pioneiro e um precursor único,queiram ou não queiram os pregoeiros mal informados que propagam o contrário.


Foi o primeiro,entre nós,a gravar uma chamarrita(que aqui era mais dança coreográfica!),foi o primeiro a gravar uma cifra(rítmo parente da milonga,muito utilizado pelos payadores!),foi igualmente o primeiro a falar em pulperia,em bailanta,e também o primeiro a gravar um rasguido doble que ele chamava de passo dobrado. Também foi dos primeiros a gravar ,propagar e ajudar na aclimatação e folclorização do chamamé.

E,além de tudo isso,fez escola.

Atrás do rastro encantado deixado por ele vieram Cenair Maicá e Pedro Ortaça,que cantavam outro tipo de música. O primeiro algo parecido com o José Mendes(que inclusive gravou uma obra sua!) e o Pedro Ortaça que cantava música sertaneja,juntamente com o gaiteiro João Máximo,com quem formou a dupla CANÁRIO & CANARINHO.

E foi assim,que depois de transitarem por vários gêneros e estilos musicais,que Cenair Maicá e Pedro Ortaça se encontraram na picada aberta pelo Noel Guarany.

Noel Guarany foi e é tão importante,que além de dotar a música gaúcha de uma face índia que ela não tinha,abriu ainda para o grande Jayme Caetano Braun uma janela de latino-americanidade,livrando-o com isso,daquela ortodoxia cetegeana,ortodoxa ,anacrônica e conservadora que ele tinha no começo.

Por todas essas razões acima respeitosamente elencadas,é que eu acho(opinião pessoal minha!) um pouco exagerada e pomposa a denominação de TRONCOS MISSIONEIROS,rótulo meramente comercial e mercadológico,criado pelo gênio marqueteiro do guru Allex Hohenbergger,como um certeiro apelo propagandístico para alavancar as vendas de um LP(no tempo do saudoso vinil!) com essa titulação,produto lançado pela USA/DISCOS na época ainda DISCOTECA.

Noel Guarany surgiu com qualidade vocal,temática e melódica muito antes da Califórnia da Canção Nativa e congêneres.


Tinha estilo próprio e carisma(uma empatia hipnótica sobre o público,como bem disse o Tau Golin) e cantava com grande dignidade.


Além do herdeiro espiritual por ele escolhido,que é o Jorge Guedes,deixou inúmeros seguidores como Luiz Marenco e Xiruzinho,para só citar dois.


Noel Guarany sempre foi fiel e carregou consigo até o fim como um repto,a máxima martínfierresca de cantar opinando e é na minha opinião o marco divisório na música nativa e crioula do RS.


Assim sendo,abstraído esse viés promocional da denominação TRONCOS MISSIONEIROS,sem desrespeitar a memória dos demais nomeados e de quem leva ainda muito a sério o rótulo do marketing,todos surgidos muito depois de o Noel Guarany ter feito o primeiro registro fonográfico do que se convencionou consignar como MÚSICA MISSIONEIRA(com o timbre,o sotaque,a aura e as temáticas que ele consagrou e conserva até hoje!),podemos reiterar e reafirmar,respaldado em datação cronológica e temporalidade indesmentível ,que o pai dessa criança É ELE,dispensando qualquer investigação,pesquisa ou exibição de prova genética do DNA artístico e autoral dessa criatura maravilhosa,telúrica e única que ELE (RE)CRIOU e que ELE mesmo batizou e crismou como MÚSICA MISSIONEIRA GAÚCHA.


Sua música tem uma estranha e mágica fosforescência. É o pajé bugre da musicalidade missioneira. O Rio Grande do Sul e as Missões,têm uma dívida impagável para com NOEL GUARANY.
06 de OUTUBRO - 15 ANOS DA MORTE DE NOEL GUARANY. 06 de OUTUBRO - 15 ANOS DA MORTE DE NOEL GUARANY. Reviewed by Unknown on outubro 05, 2013 Rating: 5

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